Dois lançamentos. Um do gênero
lírico, o outro da literatura infantil. Universos aparentemente distantes, mas
com um olhar aproximado, há uma conexão entre o livro “Fragmentos de mim:
Divagações e Experiências em Tom de Poesia”, de Marco Coura e “Creque Creque”,
de Suellen Maia. O primeiro é a trajetória do autor contada de forma melódica
em versos e estrofes, da infância no interior de Minas Gerais até a experiência
de descobrir um mundo cheio de nuances e paradigmas. O segundo narra a
trajetória de um patinho que, ao ver seu mundo se desmoronando, depara-se com o
fim que, na verdade, é o começo de sua jornada. Os dois trazem a expansão da
percepção e tocam sutilmente o leitor com a delicadeza de mostrar a vida em uma
lente de aumento do cotidiano, como o despedaçar de um ovo e uma pipa amarela
pairando no céu.
A Giostri conversou com os
autores durante seus lançamentos. Confira abaixo as entrevistas.
Marco Coura é dono de uma educação e cordialidade pouco vistas na
atualidade. Seu jeito coloca por terra qualquer estereotipo que possa existir
quando se imagina um delegado. Ele concordou de imediato em dar a entrevista.
Na mesma mesa onde começaria em alguns minutos o autógrafo de seu livro para
amigos e convidados, falou sobre sua escrita, o título do livro e seu primeiro
contato com a literatura.
Os poemas foram escritos durante
quanto tempo?
Tinham quatro poemas bastante
antigos. Os outros nasceram durante a pandemia.
O nome do livro foi muito pensado
ou no fundo você já sabia que deveria ser Fragmentos de Mim?
Pedaços, partes, estilhaços... O
livro é quase uma autobiografia escrita de forma melódica. Fragmentos de mim
escritos de forma melódica por meio de divagações e experiências.
Pipa Amarela é um poema de
destaque do seu livro, como foi escrevê-lo?
Quando eu escrevo, retrato minha
vida, minha experiência. Eu creio que o que eu vivo, o que eu vivenciei muitas
outras pessoas passam pela mesma situação. “Pipa amarela” é a história de um
menino que seu brinquedo favorito era uma pipa amarela, mas era um menino
ambicioso, trocaria sua pipa, seu brinquedo favorito por um cargo de executivo,
por um cargo de doutor e lá na frente tem sucesso em suas ambições, ele se
torna doutor e um belo dia quando abre a janela de sua oficina, volta a
infância ao ver uma pipa amarela, aquele menino sonhador é agora um homem
sonhador e o sonho dele é voltar a ser menino. Aconteceu comigo, mas revela a
vida de muitas e muitas pessoas.
Lembra do seu primeiro contato
com a poesia?
Meu primeiro contato com a poesia
foi na quarta ou quinta série. Ainda bem criança eu tive contato com o poema de
um poeta bem conhecido, Ribeiro Couto, o nome do poema era “Romance de
Cabiúna”. Um poema muito legal que me marcou profundamente. Era um menino que
dizia para mãe que quando crescesse queria morar na Europa e a mãe dele
reclamava, “Meu filho, não me amole, pare com isso”. Mas sempre quando ela estava
só, ela chorava, já prescindindo que isso um dia fosse acontecer. Um dia, o
Cabiúna vai trabalhar em um navio brasileiro, vai para Europa e um belo dia
naquele continente, alguém passa assobiando uma canção muito parecida com a que
a mãe dele cantava para ele quando era criança. Essa poesia me marcou
profundamente e foi ali que nasceu meu gosto por poemas. Me identifico hoje com
esse poema e espero que muitas pessoas possam se identificar com os meus.
Suellen Maia é jovem e animada, mas um pouco tímida. Chegou
acompanhada de sua mãe, sentou à mesinha de madeira redonda montada na livraria
para seu lançamento e já começou a falar com os convidados. Foi dar seu
primeiro autógrafo, lembrou que não estava com a caneta, olhou para sua mãe que
a entregou depois de retirar da bolsa. Em meio aos livros de outros autores que
irão compartilhar agora a prateleira com “Creque Creque”, Suellen falou sobre
sua relação com a literatura infantil, a concepção da história e a escolha do
título.
O que a levou a estrear na
literatura infantil?
Sempre gostei muito de escrever,
escrevia romance e coisas mais adolescente. Aí fiz pedagogia e tive contato com
histórias infantis, literatura infantil e fiquei encantada. Teve um dia que
veio uma ideia assim na cabeça e comecei a escrever.
Como foi o processo de criação da
história?
- Estava fazendo um curso de
escrita e falavam muito sobre escrever em dez minutos coisas rápidas e
pensamentos. E era uma fase que eu sentia que meu mundo estava caindo, parecia
que eu estava num ovo e ele estava quebrando, aí foi vindo. Uma mistura de
tudo. Meu mundo estava caindo e eu não
estava gostando e aí, no final, revela-se para o leitor de que não, era um
mundo novo, que é uma vida nova, o patinho. Aí eu coloquei o patinho porque um
pintinho iria ficar muito comum. (Risos)
A onomatopeia para simular a
quebra da casca de um ovo e o título do livro vieram em que momento?
O “creque” é uma forma que eu e
minha amiga a gente fala, tudo que quebra a gente fala “creque creque”, é um
som meio que agonia a gente. É um linguajar que a gente tem. E aí ficou no nome
do livro.
Como é para você estar lançando
seu primeiro livro?
Desde os nove anos imagino lançar
um livro, é muito louco isso está acontecendo. E ao mesmo tempo, tenho mais
certeza da literatura infantil como bandeira de luta, quero continuar fazendo.
Mais sobre os livros “Fragmentos
de mim – Divagações e Experiências em Tom de Poesia” e “Creque Creque”
no site da Giostri
Editora.